31 de Agosto, 2021
O isolamento social propiciou que elaborássemos uma metodologia de ensino que não apenas respondesse a necessidade imediata de ser realizada à distância, mas também que fosse coerente com a filosofia educacional da escola.
Tal demanda possibilitou o desenho metodológico pautado em atividades a serem realizadas de forma síncrona e assíncrona. Baseamos a proposta focando nas potencialidades da era digital, explorando a linguagem audiovisual, os letramentos multimodais, as ferramentas de comunicação e a gamificação. A ideia do ensino híbrido é personalizar e acompanhar de maneira mais eficaz o desenvolvimento de cada educando, flexibilizando tempos e espaços de aprendizagem.
Com o ensino remoto acontecendo de forma deveras abrupta, por conta isolamento social causado pela pandemia do novo vírus COVID-19, as adaptações foram acontecendo aos poucos. Nesse processo a ideia é não colocar uma câmera dentro da sala de aula, mas colocar a sala de aula dentro do espaço virtual, ressignificando o Ensino a Distância, principalmente, para as séries iniciais do Ensino Fundamental, onde acredita-se que as crianças não têm autonomia para trabalhar com ensino remoto. A relação entre as tecnologias de informação e conhecimento com a escola é marcada por diferentes posições. Para Martín-Barbero (2003) a relação dos meios de comunicação com a escola não é de oposição ou substituição, colocando-se contra a instituição escolar.
A discussão situada no âmbito da influência das mídias na sociedade moderna, que desestrutura a hegemonia da escola, obrigando-a repensar sua relação com os meios pela perspectiva das condições das novas formas de saber em detrimento das modificações na cultura e na sociedade. O ensino em situação de isolamento é uma condição extrema e provisória, no entanto, ela demonstrou a urgência em flexibilizar tempos e espaços de aprendizagem, usando todo o potencial digital disponível.
Com o tempo, observamos que os estudantes começaram a compreender a nova dinâmica de ensino. Educandos que apresentavam dificuldades de interação, engajamento e participação nas aulas presenciais, começaram a se desenvolver nessa nova abordagem de ensino.
Apresentaremos aqui o relato do percurso, os princípios e propostas que fomos construindo no decorrer da caminhada e que agora podem ser incorporadas dentro do processo
de retorno gradual das aulas presenciais, sendo também um protótipo para um novo conceito de ensino e aprendizagem.
DESENVOLVIMENTO
Mais que gravar aulas.
O principal objetivo não era fazer a câmera entrar na sala de aula, filmando uma aula expositiva, mas sim, fazer com que a sala de aula ganhasse uma dimensão virtual, trazendo novas possibilidades por meio do processo de “digitalização do ensino”. No campo de intersecção entre educação e comunicação, Pretto (1996), identificou que a maioria das pesquisas nessa área são elaboradas dentro do campo da comunicação. Os resultados dessas pesquisas indicam que a problemática da inserção da cultura digital nos espaços escolares ainda é tomada, por grande parte dos estudos, por aqueles profissionais que não estão diretamente envolvidos com os processos de ensino e aprendizagem em espaço escolar.
O baixo índice de pesquisas sobre essa temática geradas na área educacional, colocam a discussão do problema do ponto de vista de pesquisadores que já dominam a linguagem própria dos meios de comunicação e assim, a necessidade de incorporá-los e como integrá-los ao espaço escolar é evidente. A pandemia tornou urgente que os professores dominassem a linguagem audiovisual, os meios de produção e vinculação de conteúdos e isso pode auxiliar
na produção teórica destes profissionais, uma vez que a necessidade de se repensar os processos educativos em vistas aos avanços tecnológicos dos meios de comunicação se fez presente e urgente nas discussões dos educadores.
A ideia inicial para gravação de videoaulas foi o foco em qualidade audiovisual. Isso porque os educandos consomem muito conteúdo dessa natureza, seja em plataformas como o Youtube ou aplicativos como o Tik Tok. Ao optar por esse formato de videoaula buscamos superar o caráter instrumental do uso das Tecnologias de Informação e Conhecimento (TIC) no ensino. Com o uso instrumental dos meios de comunicação a relação da escola com a comunicação é de fora para dentro, ela apenas se adapta ao que está pronto e tenta “escolarizar o uso das mídias” (HUERGO; BELÉN-FERNÁNDEZ, 2000), procurando usos didáticos aos aparatos tecnológicos que os encaixem na estrutura tradicional da escola, essa forma de relação implica em um uso mecânico que subutiliza as potencialidades dos meios de comunicação e limita a ação criativa dos educadores como simples executores.
Em contrapartida, com a apropriação da linguagem audiovisual, própria da televisão, a relação se faz de dentro para fora, ou seja, os educadores se apropriam das tecnologias de informação e comunicação e as utilizam para produzir e socializar conteúdos. Essa é uma nova possibilidade de se fazer educação, uma educação autônoma, a altura de seu tempo, que não apenas tenta se adaptar as mudanças, mas domina os processos e os incorpora a sua realidade.
A linguagem audiovisual é predominante na nossa cultura vinculada pela televisão e outras plataformas. Em uma sociedade de mass media é com essas também que nos apropriamos da realidade, como diz Castells (2000) sobre a realidade mediatizada, e formamos nossa identidade enquanto brasileiros (BACCEGA, 2003). Assim, consideramos toda a experiência das crianças com conteúdos audiovisuais para produzir nossos conteúdos.
Levando-se em conta que vídeos chamam a atenção, principalmente nos primeiros cinco segundos, o objetivo era focar a atenção do estudante com uma abordagem bem-humorada. Para isso, foram utilizados alguns recursos de edição como memes, efeitos sonoros, recortes de falas, acelerar trechos do vídeo, entre outros. Houve também o cuidado para que as aulas não tomassem um tempo longo, pois é difícil manter a atenção focada em um vídeo com duração de mais de 10 minutos. Para tanto, foram utilizados diferentes estilos de gravação, como utilização de Chroma Key, inserção de flashes de outros vídeos como recurso audiovisual e plano fechado de câmera.
Nesse sentido, buscando promover uma experiência de aprendizagem significativa por meio de vídeos, reformulamos os processos educativos, de forma a abarcar todas as possibilidades de aprendizagem que sociedade contemporânea disponibiliza, não bastando que nos equipássemos com os recursos tecnológicos. A mudança necessária da escola precisa ir além do que Gómez (2002) chama de “racionalidade eficientista”. De acordo com o autor, na racionalidade eficientista a “educação moderna” se dá mediante a incorporação dos meios e tecnologias de informação no sistema escolar e a melhoria do ensino decorre da modernização dos meios para transmissão de conteúdos.
Não se pode afirmar que a melhoria da qualidade da educação se dá apenas pela incrementação dos recursos didáticos, como o giz e a lousa, ou seja, não adianta mudar os meios, se os fins ainda são os mesmos. A tecnologia não tem razão de ser na escola se os professores dão a mesma aula com a televisão que dariam com o livro ou a lousa. A modernização tecnológica não corresponde, necessariamente, à modernização educativa que, segundo Baccega (2003, p. 74-75):
Os que consideram necessário o uso da televisão para aumentar a eficiência escolar lembram que a escola está defasada com relação aos avanços tecnológicos e que precisa se modernizar. Ocorre que se modernizar significa usar a televisão como apoio ao mesmo processo de ensino-aprendizagem que se vem desenvolvendo. Há, portanto, um desvio. O que se deve tornar contemporâneo, respeitando as novas sensibilidades dos alunos, é o próprio processo de ensino-aprendizagem e não o uso de qualquer tecnologia que sirva, por exemplo, apenas para mostrar uma bactéria ampliada, para que possa ser seja vista melhor. Ou usar equipamentos para teleconferência ou ainda utilizar-se da programação de algum canal educativo. Tudo isso- e muito mais- pode ser feito, desde que atendendo a um planejamento do processo ensino-aprendizagem que contemple as características dos alunos. Caso contrário, a televisão e a tecnologia em geral só reforçam o que já está desgastado. O fundamental, mesmo, é desentranhar os mecanismos de construção da representação televisiva presentes nos alunos, buscando inserir essa realidade no processo educacional.
Dessa forma, nossos vídeos foram evoluindo com o tempo, à medida que íamos nos apropriando de como as crianças construíam representações a partir dos conteúdos audiovisuais que estávamos inserindo no processo de ensino. Chegamos à construção de narrativas para contextualizar os objetos de conhecimentos mobilizados.
Os primeiros vídeos foram feitos com a ideia de explicar conceitos e, com o passar do tempo, também foram incorporadas a explicação de atividades, bem como situações de atividades (correção coletiva, ditados, revisão textual), mas sempre com o objetivo de trazer humor e um ambiente descontraído, sempre de forma equilibrada, conduzindo o estudante a trajetória que deve percorrer em toda a orientação de estudos.
Ainda assim, a necessidade por engajamento dos educandos no ambiente virtual (plataforma de aprendizagem) foi sendo encarado como algo necessário, assim como mais uma situação de aprendizagem. Por isso, em colaboração com os próprios estudantes, foi criado o movimento #elabora.
O movimento tem a intenção de que os alunos façam comentários bem elaborados e escritos sobre a videoaula assistida, com o objetivo trazer engajamento e interação às aulas, desenvolver habilidades de elaboração da escrita, trabalhar concordância verbal e capacidade de síntese. O comentário que mais atender aos critérios citados, será lido na videoaula seguinte.
Dessa forma, espera-se que os estudantes consigam se envolver ainda mais com o ensino remoto e protagonizar seu processo de aprendizagem, desenvolvendo autonomia.
A escola apresentou um quadro favorável à conversão dos atributos técnicos da tecnologia digital em benefícios para comunidade escolar por dois motivos: a apropriação da produção audiovisual pela escola foi uma necessidade e mais uma oportunidade de torná-la um espaço de produção de conhecimentos, com a participação ativa de alunos e professores. A afirmação e o desenvolvimento da identidade profissional do professor passam pela socialização dos saberes específicos da prática docente entre seus pares e com a sociedade.
Roteiro de aprendizagem: pensar digital
Como inserir as atividades de escrita, pensando que as crianças estavam sozinhas em casa e precisavam interagir com as propostas de estudo, não apenas fazer exercícios. Além disso precisávamos considerar que deveríamos repertoriar as crianças para realizarem as atividades com a maior autonomia possível. A ideia não era enviar atividades que demandassem que os familiares atuassem como professores.
Com esse objetivo, pensamos em trabalhar com trajetórias de aprendizagem. Para isso escolhemos o formato dos arquivos em PowerPoint. A ideia é propiciar uma experiência de estudo digital, assim as orientações de estudo tornam-se roteiros de aprendizagem.
Para formulá-las partimos do pressuposto de uma situação de ensino na sala de aula, com os momentos de contextualização, problematização, sistematização e criação de repertório. Com o PowerPoint pudemos inserir imagens e links para vídeos, sites e outros conteúdos digitais.
Assim, nosso foco estava em oportunizar o uso do computador para interagir com a tecnologia digital, por isso, sempre colocamos propostas de estudo utilizando recursos digitais. Com essa metodologia viabilizamos que os educandos interajam com os conteúdos de estudo utilizando todo o potencial dos recursos digitais, como vídeos, infográficos interativos, mapas interativos, sites, museus interativos, revistas on-line, entre outros.
Essa experiência é diferente de usar a televisão na sala de aula para entrar nesses objetos digitais e mostrar para as crianças. Nessa situação, elas interagem com esses objetos e fazem seus próprios caminhos de aprendizagem.
Ferramentas digitais, metodologias ativas: experiência da sala de aula invertida.
As orientações de estudo, em formas de roteiros viabilizam estudos autônomos, usando a estratégia de sala aula invertida, podemos propor que os estudantes explorem objetos digitais no próprio suporte, usando um roteiro de estudos e depois tragam as conclusões ou hipóteses levantadas para discussão em sala de aula.
Estamos realizando esse movimento com as habilidades sobre energia, articulando história, geografia e ciências. Propomos uma exploração da linha do tempo interativa no site da Usina Binacional de Itaipu. As crianças fizeram o estudo independente e depois socializamos em discussão on-line.
Com essa mesma metodologia podemos gerar questões de pesquisa para que usem o Google Maps e Google Earth. Fizemos esse movimento a partir da linha do tempo da construção da Usina de Itaipu, problematizando a estrutura, setores, tecnologia e trabalhos envolvidos para o transporte de uma peça na década de 80 e uma atualmente. Trabalhamos também com leitura de paisagem, usando as fotos disponíveis na linha do tempo e outros sites.
A exploração autônoma usando o computador como suporte também favorece variadas práticas de leitura e escrita em diferentes áreas do conhecimento. Em ciências, dentro de um processo de alfabetização científica, gravamos uma videoaula explicando os passos de um experimento científico para mobilizar a observação de alguns fenômenos relacionados a energia, nas próprias casas. Assim, fazia sentido utilizar uma aula em casa para logo em seguida já iniciar a exploração.
Em outro momento, após a realização de um experimento científico, propusemos a escrita de um comentário no site da Revista Ciência Hoje das Crianças, comentando o resultado do processo de pesquisa científica, registrando se, após o experimento, confirmaram ou refutaram as hipóteses iniciais.
Ensino híbrido: articulando o presencial com o virtual
Com o retorno gradual das aulas presenciais, acreditamos que, mais do que nunca, o ensino híbrido se fará necessário, sendo incorporado como uma importantíssima estratégia tanto para adequação do momento atual vivenciado pela sociedade e, por consequência, de toda a comunidade escolar, assim como ferramenta para prática de um ensino mais personalizado.
A ideia é oportunizar a mesma aprendizagem, na perspectiva de conceitos e habilidades tanto no ambiente de sala de aula, como no ambiente virtual, trazendo, para isso, elementos digitais que possibilitem esse trânsito entre atividades presenciais e remotas, tornando assim, a aprendizagem equitativa a todos os educandos, porém através de meios diferentes. Entendemos aqui a educação híbrida, abarcando todas as possibilidades de articulação entre diferentes ambientes de aprendizagem, presenciais e digitais, com uma exploração orgânica que se beneficie das vantagens pedagógicas de cada um deles em benefício da aprendizagem das crianças, como também a vertente que entende essa modalidade como uma forma de potencializar os processos educativos pela incorporação das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TIDC). Segundo Mill e Chaquime (2020, p. 6):
Mais recentemente, começam a ser explorados aspectos inovadores no ensino-aprendizagem, tais como: apropriação de metodologias ativas (que, em geral, nem são tão novas assim), convergência das mídias e das tecnologias, incorporação do mundo virtual no seio educacional, proposição de currículos mais flexíveis – com tempos e espaços integrados, combinados, com possibilidade de encontros presenciais e virtuais, em grupos e de acordo com a necessidade do estudante, de modo mais coerente com a sua vida cotidiana, por meio de práticas, atividades, jogos, problemas, projetos relevantes etc. Isto vem sendo experimentado a partir da incorporação das TDIC no contexto educacional, com especial atenção ao processo de colaboração (aprender juntos), personalização (incentivar e gerenciar os percursos individuais) e autoria (aprendizagem ativa e participativa).
Com esse olhar para o ensino híbrido, é possível trabalhar com trajetórias de aprendizagem. Trajetórias essas produzidas de forma autoral pelos professores, reconhecendo as características gerais da sala e a necessidade de cada criança, numa abordagem de problematização e contextualização de conceito, bem como, de forma interdisciplinar para que o educando compreenda a relação existente entre as diversas áreas e consiga desenvolver habilidades.
Um ponto que é necessário destacar, é que o educando terá que transitar entre dois ambientes de aprendizagem o físico (sala de aula presencial) e o virtual (AVA – Teams). Para isso, terá a devida orientação do professor, que terá o papel de guiá-lo virtual e presencialmente pela trajetória delineada, já que o aluno vem com a experiência do ensino remoto. O intuito é que o educando consiga realizar de forma eficaz e mais autônoma possível o caminho e realizar as atividades propostas.
Dessa forma, será possível realizar momentos de estudos que estarão dentro da trajetória de aprendizagem, um caminho que articulará momentos de estudos coletivos, em grupos e individuais. Esses podem ser alternados de acordo com a necessidade que o professor sentir em relação a turma, fazendo com que haja interação com os alunos que farão as atividades remotas e os presentes na escola, garantindo um movimento de aprendizagem dentro da proposta estabelecia.
Uma maneira prática que já vem sendo trabalhada são as oficinas de Linguagem e Matemática.
Com elas trabalhadas à maneira como são, é possível, por exemplo, aprofundar conceitos e garantir o processo de recuperação para os educandos que necessitem. Dentro do roteiro de estudos é possível retomar conceitos, problematizar e repertoriar os alunos para que realizem a atividade proposta sem, portanto, que se tenha discrepâncias entre as turmas que se revezarão nas aulas presenciais.
A virtualização da aprendizagem também poderá ser realizada com a proposta de exploração de diferentes objetos digitais de aprendizagem (ODA), em momentos distintos das aulas no espaço físico. Com o roteiro de estudos os estudantes podem realizar dois movimentos diferentes, dependendo do objeto da aula da área de conhecimento:
1- Realizar a exploração de um ODA para posterior discussão em sala de aula, sistematizando conceitos.
2- Realizar a exploração de um ODA após a discussão em sala de aula física, para generalizar conceitos ou trabalhar em perspectiva interdisciplinar.
Nesse sentido, as crianças podem trabalhar com uma proposta de atividade virtual que está articulada a propostas de atividades presenciais.
O ambiente virtual de aprendizagem também pode ser utilizado para socializar diferentes materiais, como por exemplo, compartilhar sínteses e mapas conceituais. A socialização desses registros na sala virtual é favorecer que os estudantes desenvolvam habilidades relacionadas aos procedimentos de estudos autônomos trocando experiências e aprendendo diferentes procedimentos.
O uso dos fóruns no AVA possibilita aprendizados de naturezas diferentes, principalmente no que se refere as práticas de leitura, escrita e registro com o objetivo de estudo. A participação em fóruns de discussão mobiliza capacidades diferentes das discussões presenciais e demandam a mobilização de outras habilidades. Os fóruns são articulados com as atividades presenciais, viabilizando estudos em outros espaços, além da escola.
Os fóruns também se tornam portfólios digitais de aprendizagem, uma vez que além de possibilitar a socialização de diferentes registros, esses ficam arquivados e servem para identificar, tanto para o professor, família e o próprio estudante, os avanços e pontos que necessitam de maior atenção, favorecendo assim, a autoavaliação.
Os fóruns potencializam as possibilidades de aprendizagem e de ensino em cada disciplina, um exemplo são fóruns para rodas de leitura. Podem ser propostas leituras para casa e as apreciações realizadas em fórum, neles podemos também propor análises coletivas, como por exemplo, de escritas de palavras, pensando nas formas corretas de uso e nas regras geradoras de escrita.
Como esses materiais ficam nos fóruns e servem como fontes de pesquisa, podendo ser consultados em diferentes momentos, inclusive pelas famílias, que podem acompanhar e vislumbrar a amplitude do trabalho realizado.
A possibilidade de arquivamento das produções dos alunos é uma das principais vantagens das atividades digitais, extremamente importantes para algumas habilidades específicas, como a de produzir e revisar os próprios textos. Realizamos as atividades de produção de textos dentro de uma sequência, usando objetos de aprendizagem e ferramentas digitais, que viabilizaram: conhecer o contexto de produção dos gêneros estudados, analisar diferentes situações comunicativas envolvendo esses gêneros, acesso a diferentes obras que não estariam disponíveis materialmente, produções em diferentes linguagens.
Para o professor, o uso dessas ferramentas para devolutivas e para orientar revisões é muito propício, pois agiliza os processos de revisão e permite a consulta autônoma dos estudantes.
Principalmente em produção de texto é comum que as crianças estejam em diferentes níveis de proficiência e algumas necessitem revisar os textos mais vezes que outras. Fazer isso em um ambiente virtual possibilita que todos tenham suas demandas atendidas, tanto aqueles que precisam permanecer mais tempo revisando seus textos, quanto os que podem passar para outras propostas de produção, permitindo o acompanhamento do professor em todas as etapas e ajustadas as necessidades, intervenções pontuais mais difíceis de serem organizadas em sala de aula física. Assim, a flexibilidade de tempo e espaço promovem mais aprendizagens e mais personalizadas.
As ferramentas digitais possibilitam o trabalho colaborativo, com a possibilidade de produzir conteúdos em Word, PowerPoint e outros aplicativos de forma compartilhada. Um exemplo desse trabalho está sendo realizado pela Professora Ediluci, que cria conjuntamente com alguns estudantes os materiais da acolhida do dia, fazendo parceria com as crianças que têm menor iniciativa e são mais tímidos.
Nos chats as crianças também podem postar materiais complementares as aulas, demonstrando proatividade e estendendo a atividade de estudo e o prazer pelo aprendizado para além dos muros da escola. O chat também é usado de forma colaborativa, muitos estudantes, por iniciativa própria, organizam grupos para pedir orientações das professoras e estudarem juntos.
O trabalho colaborativo, mediado pelos espaços virtuais, permitem a participação das famílias nas atividades realizadas na escola, é o espaço ampliado de educação, articulando todos os agentes.
PARA NÃO CONCLUIR
O trabalho estendido em tempo e espaço que a tecnologia digital possibilita, impacta o trabalho docente de diferentes maneiras. Assim como é favorável para autonomia, personalização e colaboração dos estudantes, também é para os professores.
Um trabalho na perspectiva das tecnologias digitais de comunicação (TIC) favorece que o professor produza trajetórias de ensino autorais. Mais que apenas seguir um livro didático, ao incorporar diferentes ODA e ferramentas digitais ao ensino, o professor realiza um trabalho autoral, onde seleciona determinados ODAs de acordo com seus objetivos de aprendizagem e elabora estratégias para a exploração, adequando aos objetivos e necessidades dos educandos.
Um trabalho assim demanda mais tempo e muito estudo, o que necessariamente leva o professor estabelecer parcerias, para dar conta de tal tarefa. Ao estabelecer as parcerias começando a criar uma cultura de trabalho colaborativo, em que tomamos decisões compartilhadas sobre o que ensinar e passamos a usar as próprias ferramentas que dispomos para os alunos para nossos próprios processos de criação.
O trabalho em espaço digital também possibilita o desenvolvimento de uma prática criativa, quando ampliamos nossos meios de formação, começamos também expandir as possibilidades de formação e à medida que as crianças se mostram mais entusiasmadas, isso também contagia o professor.
Tal trabalho também tem ampliado nossa própria visão do conhecimento, conseguindo, efetivamente, encontrar ODAs que nos permitem desenvolver um trabalho interdisciplinar. À medida que trabalhamos mais juntas, agregamos mais perspectivas de um mesmo objeto de ensino.
Assim como criamos um espaço de aprendizagem virtual, criamos também um espaço de formação, pois criando pastas para armazenar os trabalhos produzidos conjuntamente, uma vez que produzimos um roteiro para as três turmas, começamos também compartilhar diferentes fontes de pesquisa para criá-los e assim vamos constituindo um acervo de estudo e pesquisa.
Aprendemos também que um trabalho assim não é exclusividade apenas dos professores que "gostam" de tecnologia, pelo contrário, é justamente a possibilidade de aprender juntos que torna esse trabalho colaborativo. Cada professor, dentro das suas possibilidades, vai agregando conhecimentos a partir das experiências compartilhadas com os colegas e aprendemos a valorizar a potencialidade de cada um, pois um projeto desse só se torna viável se for coletivo.
Dessa forma, um ensino híbrido demanda a participação de todos e implica em formas específicas de pensar a educação. Um mundo digital é um mundo em que todos têm a oportunidade de produzir e vincular conteúdos, mas o que sustenta essa opção é expandir tempos e espaços da escola a partir dos fundamentos educacionais já estabelecidos. O que não se pode perder de vista é que tipo de seres humanos queremos formar e como o digital pode contribuir com isso.
O mesmo pensamento se aplica ao trabalho docente, questionando que tipo de trabalho queremos desenvolver, o que demanda muita colaboração e respaldo. Nenhum educador sozinho consegue pensar e reelaborar sua prática dessa forma fora de uma rede de colaboração. Pensar digital é o pensar em rede e essa rede necessita de sustentações.
É fato que o trabalho docente fica mais encorpado, nosso grande desafio tem sido repensar nosso tempo de trabalho considerando todas nossas possibilidades de atuação: prática em sala de aula, prática no espaço virtual, produção de conteúdos e roteiros de aprendizagem, acompanhamento do processo, trabalho colaborativo com os pares, domínio de condições técnicas necessárias, entre outros.
No entanto, não saber como fazer, não significa que não possamos começar!
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CASTELLS, M. Sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
GÓMEZ, O. G. Comunicação, Educação e Novas Tecnologias: Tríades do séc XXI. Comunicação & Educação, São Paulo, v. 23, n. 57-70, jan./abr. 2002. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/comueduc/article/view/37017/39739. Acesso em: 5 fev. 2021
HUERGO, J. A.; BELÉN FERNÁNDEZ, M. Cultura escolar, cultura mediática/ Intersecciones. Santa Fé de Bogotá: Universidade Pedagógica Nacional, 2000.
MARTÍN- BARBERO, Jesús. De los médios a las mediacionaes. Bogotá: Convenio Andrés Bello, 2003.
PRETTO, N. L. Uma escola sem/com futuro. Campinas: Papirus, 1996.
MILL, D; CHAQUIME, L. P. Curso de especialização em Educação e Tecnologia: Educação Híbrida como estratégia educacional. São Carlos: UFSCAR, 2020.